
UMA AÇÃO DA ARTE CONTRA A CULTURA DO FRACASSO
POR PROFESSOR JORGE BARROS*
POR PROFESSOR JORGE BARROS*
Aos opositores da instalação artística, urge lembrá-los de que alunos de vários cursos, bem como professores, servidores e pessoas da comunidade - entre elas, crianças - têm contribuído com a mesma. No início do II semestre de 2008, todos foram convocados para participarem do ATELIÊ DOS ARTISTAS (E DOS ESTUDANTES) DO POVO. Nesse ateliê, cada um deixou impresso em uma ou mais garrafas o seu processo de criação artística e a sua liberdade de pensamento e ideia. A proposta era saudar, de uma forma civilizada, poética, acadêmica e ética, os calouros daquele semestre; longe do trote violento, depreciativo e pornográfico que atenta contra a dignidade e a integridade física, moral e psicológica dos novos universitários – o que, infelizmente, ainda presenciamos no início de cada semestre letivo, num total desrespeito à resolução do CONSEPE, e sob o olhar da omissão da Prefeitura de Campus e desses mesmos professores que são contra essa proposta artística. Tudo está devidamente documentado. A partir do I Semestre de 2011, O ATELIÊ DOS ARTISTAS (E DOS ESTUDANTES) DO POVO constará sempre na programação da recepção aos calouros. A nossa arte tem como objetivo a transformação do meio, a conscientização dos indivíduos. E você, que é contra o que está sendo feito e quer patrocinar a censura do tempo, o que está fazendo no sentido de contribuir para o humanismo da comunidade universitária?
As esculturas de garrafas constituem-se num efeito da arte contra a cultura do fracasso, que cotidianamente estamos vivenciando neste espaço acadêmico. Do fracasso, por sermos uma mera extensão de Vitória da Conquista: não temos investimento em um projeto de cultura e arte que dê vida e dinamismo à extensão universitária, no campo das relações sócioeducativas; não possuímos espaços culturais e artísticos que promovam a integração entre a universidade e a sociedade jequieense, visando o bem estar comum dos indivíduos, inclusive aos sábados, domingos e feriados; não temos acesso às transmissões nem da TV nem da Rádio-UESB; não usufruímos de um restaurante universitário com um centro de convivência para atender às necessidades de toda a comunidade universitária no tocante à alimentação, principalmente às dos alunos carentes de outras cidades; estamos distante, muito distante, de um setor de áudio-visual com equipamentos em número satisfatório para atender demandas dos professores no tocante a recursos didáticos para o desenvolvimento de seu projeto pedagógico; não temos equipamentos de sonorização, de iluminação, de fotografia e de filmagem de qualidade para documentar nossa história universitária e comunitária; não pudemos nem realizar com êxito a Vila da Ciência 2010, porque o veículo que iria buscar alunos da rede pública de ensino quebrou e teve que ser deslocado até a própria Vitória da Conquista para conserto; os nossos olhos contemplam todos os dias um melancólico paisagismo de obras inacabadas, mofadas; acostumamos-nos, muito pessimamente, ao cenário de obras de esticadinhas; temos que nos deslocar até àquela cidade todas as quartas-feiras, para resolver problemas acadêmico-administrativos, fazendo-se viagens longas, exaustivas e, muitas vezes, com risco de acidentes para os nossos colegas; o campus não é independente para eleger e ver empossado um candidato a reitor, indicado pelo próprio campus – o candidato pode até ser expressivamente bem votado aqui, mas dependerá dos votos de Vitória da Conquista e Itapetinga; não somos beneficiados pelo processo de rotatividade das reuniões do CONSU, CONSEPE, Câmara de Graduação etc, tal qual faz hoje a ADUSB no tocante às assembléias gerais; não temos autonomia para gerenciar nossas licitações e compras etc...
As esculturas de garrafas (concepções artísticas que deverão indefinidamente ocupar um espaço urbano) foram colocadas numa parte dos jardins da UESB para servirem de exemplo de reciclagem, de cuidados e de preservação do meio ambiente. Isto pela vertente da arte contemporânea, da arte conceitual, imbuída de subjetivismo. Elas já se tornaram num símbolo dessa luta. Os artistas deram à sua universidade e à comunidade jequieense essa obra. Eles não podem mais retirar do lugar onde ela está. Não se deve tomar aquilo que foi presenteado. As obras já fazem parte do patrimônio artístico do nosso espaço acadêmico. O máximo que esses artistas podem fazer é zelar pelas mesmas, resignificá-las, o que faremos mais adiante, mais precisamente na próxima semana dos calouros, março/2011. Entendemos que os traços das pinturas devem sempre ser renovados; outras estéticas devem ser trabalhadas, idealizadas. Se você consegue se adaptar às situações absurdas da degradação do meio e da cultura do fracasso no campo das relações de trabalho, por que não consegue se adaptar à proposta desse trabalho de cunho artístico-ecológico? Reflita.
Contudo, aos insatisfeitos com o nosso trabalho, aconselhamos redigirem um abaixo-assinado com suas justificativas e o enviarem à Prefeitura e/ou ao Conselho de Campus, solicitando a retirada do mesmo. O homem deve ser responsável pelos seus atos. Ele deve assumir suas posições políticas e pessoais, sair das sombras, para que não seja visto como “membro da conspiração secreta dos medíocres”. E quem quiser que tome a sua carapuça. Nós fazemos diferente: estamos nos contrapondo à mediocridade universitária, ao distanciamento entre universidade e sociedade e ao vazio de idéias, de reflexões e de críticas que habitam este campus. A nossa proposta não é nos agarrarmos a cargos administrativos, usar a instituição para propaganda ideológica e/ou partidária, tampouco viver durante quatro anos maquinando a tomada da reitoria, e sim vivenciar a universidade em todas as suas dimensões – ciência, educação, consciência ecológica, integração, arte, cultura... E que pena que num campus universitário que ministra cursos de Biologia, de Ciências do Meio Ambiente e da área de saúde não surjam outras propostas dessa natureza, mas a censura, um visível desconhecimento do verdadeiro papel da arte e a intolerância!
Finalizando, a tarefa de retirar as obras – se acham que a proposta não é ecologicamente correta - fica por conta da própria Prefeitura e do Conselho de Campus. Se estes órgãos quiserem atender às solicitações dos protagonistas do “Muito barulho por nada”, da “Comédia de erros” e do” Teatro do absurdo”, será uma decisão unilateral dos mesmos. E se essa for a decisão, solicitamos, desde já, o comunicado da data e horário da retirada das esculturas, para que os artistas possam registrar e documentar o episódio; restando-nos saber que crime ambiental vão cometer. Todos estes questionamentos fazem parte dos conflitos e da história da arte. Estas são as nossas verdades, e quem tem as suas que tenha a coragem de publicá-las.
As coisas findas, muito mais que lindas, essas permanecerão.
Carlos Drummond de Andrade
*Professor Jorge Barros
DQE-CAMPUS DE JEQUIÉ
Graduado em Matemática,
e não em Biologia e/ou Ciências do Meio Ambiente, e idealizador das esculturas.
Obs.: Este documento, com fotos anexas sobre a situação do campus de Jequié, será enviado ao gabinete do reitor, do vice-reitor e a todas às pró-reitorias da atual administração. Estes gestores precisam saber o que está acontecendo neste campus. Ele também será enviado a todos os órgãos da imprensa livre de Jequié, à Câmara de Vereadores, ao Conselho Comunitário, à Secretaria Municipal de Cultura, ao Conselho Municipal de Cultura, ao Conselho Municipal de Saúde, à DIREC 13, à 13a DIRES, às escolas públicas de Jequié, à Academia de Letras de Jequié, às ONGs que trabalham com projetos de educação ambiental etc. A universidade é um patrimônio da sociedade e a esta, ela deve prestar contas de suas ações.
Um comentário:
Quem faz arte passa por estas coisas. O artista é quase sempre incompreendido. Arte é polêmica. Arte é para poucos, os iluminados por este dom.
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