POR PROFESSOR JORGE BARROS*
Em 2003, preocupados com ações danosas de alguns materiais ao meio ambiente, dentre eles: pneus, garrafas de vidro, de plástico etc, jogados nos rios, nas ruas, nos jardins, nas valetas..., montamos a instalação de esculturas de garrafas numa parte dos jardins da UESB. Instalação esta que propõe uma reflexão sobre as relações homem/consumo e objeto/meio ambiente. Quando montamos a mesma, sabíamos que uns a aceitariam, e outros não. Isso é perfeitamente compreensível no universo da arte, porque arte não é consenso, é polêmica. A arte sempre foi um divisor de águas e, gostar ou não da obra, é um direito inalienável de cada indivíduo.
Contudo, porque alguns não gostam da obra, isso não lhes dá o direito - em hipótese alguma - de mandar retirá-la. E quem assim procede dá uma inequívoca demonstração do desconhecimento dos princípios e fundamentos da arte. Em uma universidade pública há sempre espaços para as diversas manifestações artísticas, culturais, de idéias, de liberdade de expressão e organização, podendo isso se dar de forma temporária ou contínua, a depender da proposta do autor da obra. Somado a isso, a universidade deve dar à sua comunidade exemplos práticos e constantes da relação civilizada entre o homem e ecossistema, objeto e reciclagem etc, longe daqueles discursos muitas vezes sonolentos e enfadonhos sobre estes mesmos temas.
Àqueles que visceralmente estão contra as esculturas de garrafas, o que têm de proposta prática sobre educação e meio ambiente para colocar no lugar delas? Em que as garrafas estão lhes fazendo mal? Elas estão impedindo a passagem de alguém? Estão impedindo a visibilidade das pessoas? Exalam mau cheiro? Estão causando dano à saúde da comunidade universitária? Todas estão devidamente lacradas. Como se pode também observar, as esculturas não fazem apologia às drogas, à pornografia, à violência etc. A justificativa de que as garrafas devem ser retiradas porque acham feio e/ou porque o tempo da exposição já passou é, no mínimo patética, sem nenhum sentido. O que é feio para uns, é bonito para outros. Gosto é algo estritamente pessoal, conceitual; e o tempo é o principal divulgador da arte. No campus, todos os dias, entram novas pessoas. A censura do tempo não tem lugar numa universidade pública. A arte não tem nada a ver com o que está acontecendo com o psiquismo de cada indivíduo. Os bancos de cimento também estão pintados e quem mandou pintá-los foi a própria Prefeitura de Campus, em 2005. Por que também não solicitam a retirada dos mesmos ou a retirada das pinturas? Ao passar perto das esculturas, esqueça-as. Faça de conta que elas não existem. Siga em frente.
E, para quem argumenta que as garrafas estão deformando o paisagismo do campus e se dirige até a sala da prefeita, da senhora Ivonélia Alcântara Mendonça, solicitando a retirada das mesmas, que tal, juntamente com a própria dar uma volta completa em torno desse mesmo campus, para perceberem “a quantas anda” o seu paisagismo? Fazendo isso, afiançadamente perceberão o quanto o nosso espaço físico está sujo, degradado. Se não, vejamos: diversos pisos estragados, esburacados, carcomidos, fazendo vergonha; tampões abertos com fios elétricos expostos causando riscos de choque elétrico às crianças que por aqui transitam e brincam; áreas com pavimentação envelhecida e algumas delas sem pavimentação, provocando poeira e, como conseqüência, danos a nossa saúde; bancos de assentos emporcalhados, lodentos, quebrados, alguns deles não oferecendo condições dignas de assentos às pessoas; mesas de cimento sujas e danificadas - e, em uma delas, três pedaços pontiagudos de ferro visivelmente expostos, causando risco de morte; janelas de madeira apodrecidas e com os vidros imundos; salas de aula e corredores necessitando de lavagem, de serem higienizados; setor de audiovisual com equipamentos sucateados e com deficiência de muitos deles, prejudicando sensivelmente o trabalho didático dos professores; vários vasos de coleta de lixo quebrados, sucateados; dezenas de ventiladores com defeito, causando desconforto aos alunos e professores; a biblioteca com graves problemas de funcionamento; um monte de lixo habita nas vizinhanças do espaço da piscina; UM GINÁSIO DE ESPORTES QUE POR FORA É UMA TRISTE VIOLA E POR DENTRO UM PÃO BOLORENTO, causando constrangimento aos profissionais da área que ali trabalham e/ou estudam e àqueles que o freqüentam, bem como envergonhando o nome desta instituição de ensino; imagens melancólicas de obras inacabadas etc. Pintura de paredes, de arquibancadas, de portões, bem como banho de cal em rodas-pé não é reforma, é tapeação. A pintura é a etapa final do processo.
O nosso ginásio carece de uma reforma de infraestrutura. Em um dos seus lados existe um buraco de mais de um metro de profundidade, tampado com uma folha de zinco, exibindo riscos de graves acidentes a quem por ali transita; o seu passeio é simplesmente deprimente, um símbolo do descaso. Pelo que foi exposto acima, fica claro que a preocupação de muitos como o paisagismo do campus é simplesmente falsa, sem lógica. O nosso trabalho artístico não é o culpado pela imagem deteriorada deste espaço de trabalho. E de quem é a culpa por essa porca miséria? Deixamos para você tirar suas próprias conclusões, isto é, para você decidir. O que não é justo é o campus em completo estado de apodrecimento e você preocupado com simples objetos do cotidiano que estão transmitindo uma mensagem de educação ambiental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário