quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Caso do Pura Política mostra importância de diploma em contexto de instituições frágeis


O escabroso caso do empresário João Andrade Neto, dono do Pura Política, um site a partir do qual, segundo a polícia, tentava extorquir empresários e poderosos, além de atacar os desafetos que fazia, ao que se comenta, diariamente, aos montes, é um exemplo claro de que o Brasil, lamentavelmente, ainda não possui instituições suficientemente fortes para garantir a dispensa do diploma para o exercício de atividade tão nobre e importante para a sociedade como o jornalismo.

Sem formação adequada, respeito a princípios éticos básicos, além de desconhecimento da técnica jornalística e de regras gramaticais primárias, o que não raro torna a leitura de seus textos uma tortura sem tamanho, curiosos têm encontrado na internet um campo livre para os mais diversos tipos de manifestação. O difícil, entretanto, é que consigam apresentar ao leitor conteúdo que obedeça a critérios mínimos de qualidade no campo do jornalismo.

Ao não preencher requisitos profissionais essenciais, podem fazer de tudo o que a liberdade lhes confere, menos jornalismo. A contrapartida nefasta do exemplo que ganhou ontem espaço em todos os telejornais locais e empresta a manchete a todos os jornais baianos desta quinta-feira, é que, como os usurpadores não pertencem à categoria de jornalistas, as entidades de classe, responsáveis por resguardar a atividade, ficam impossibilitadas de tomar qualquer atitude contra eles.

O assunto merece ainda mais atenção dada a lamentável tradição baiana da extorsão no campo da comunicação, a qual teve seu debut escandaloso num meio novo como a internet, mas já vem encastelada há muito em programas de rádio e televisão locais a respeito dos quais os rumores de achaque são frequentes. Um exemplo de que não há instituições capazes de fazer frente à liberalidade da ausência do diploma jornalístico é a demora da Justiça em inibir as ações do Pura Política.

Os jornais noticiam, por exemplo, que há dezenas de processos por calúnia e difamação contra o seu proprietário – que, além de patrocinar denúncias irresponsavelmente, não raro atacava desafetos ou vítimas da suposta extorsão com palavras grosseiras e termos chulos – sem que até hoje tenham sido julgados. Outra prova da fragilidade das instituições para conter o ímpeto agressor do site foi o apoio que recebeu e ainda recebe de setores governamentais.

Em sinal claro de legitimação do controvertido conteúdo do Pura Política, o governo do Estado bancou anúncios durante meses no veículo e o mesmo ainda faz, lamentavelmente, a Prefeitura de Salvador, apesar das evidências de sua péssima qualidade, do desserviço ao jornalismo e dos indícios cada vez mais gritantes de que atendia a interesses inconfessáveis, os quais precisam, neste momento, ser devidamente investigados pela polícia e punidos pela Justiça, se provados.

Quanto à operação comandada pelo secretário de Segurança Pública, César Nunes, é merecedora de todos os elogios, pela seriedade, equilíbrio, senso de oportunidade e cuidado com que foi desenvolvida, de forma a não deixar dúvidas com relação à sua validade e legalidade, elemento fundamental para garantir a responsabilização do site e de seu proprietário no momento e campo oportunos.

Fonte: Política Livre.

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