quinta-feira, 11 de março de 2010

O princípio da alteridade


Por Wellington Nery

Vivemos tempos de intolerância. Tempos de desamor, de rancores e de pusilanimidades. Sim, vivemos tempos de barbáries e não temos energias para reagir. Somos frágeis, fracos de ânimo e de coragem. Ante a diferença, buscamos a negação. Ante a diversidade, buscamos a solidão. Queremos os iguais, queremos espelhos. Queremos um conforto e uma segurança em muros de medo e vemos o mundo por entre frestas de pouca luz, de parca lucidez. A realidade cada vez mais diluída em constantes pesadelos é uma realidade não vivida plenamente. Uma realidade negligenciada pelo indiferentismo que nos domina. A nossa realidade vem sendo carcomida pelo medo. Estamos sós e mal acompanhados num mundo que desaba em certezas axiomáticas. Estamos sós e desamparados num mundo que se apequena em posicionamentos fundamentalistas. Estamos sós, num mundo de intolerâncias.

Uma charge provoca a horda ensandecida. Uma visão opaca contempla a ignorância e a mesquinhez. Liberdade se transverte em irresponsabilidade, em ganância, em mais tinta de sangue a pulsar o ódio em bancas de jornais. Somos diferentes e incompatíveis, assim pregam os “líderes” e “sábios” do globo terrestre. Sim, ainda somos trogloditas! Ainda somos animais irascíveis em nossa verdade única. Aqui não cabe o outro, aqui não comporta o plural. Aqui só sim e não, num diapasão uníssono. Que rufem os tambores da guerra entre civilizações, entre religiões, entre seres humanos. Todos a postos: vamos nos matar! É triste, caros leitores, mas esse é o clima do nosso tempo. Somos contemporâneos em tempos de insensatez.

Contudo, gostaria de apresentar-lhes algo que não é novo, mas parece a muito esquecido: o princípio da alteridade. Alteridade, o caráter do que é outro, a diversidade, a diferença. Sim, o antônimo de identidade. É preciso contemplar a diferença em todas as suas nuances. Para isso, busquemos entender que “quando eu nomeio, eu me nomeio” e sem o outro eu não sei quem sou, pois só sou em sociedade. E as sociedades devem ser múltiplas como a vida o é. O diferente é necessário, imprescindível, essencial. Respeitar o outro é querer respeito consigo. Somos todos uns em função do outro. Não nos cabe o preconceito, a intolerância, a estupidez, a barbárie. Somos pó, e retornaremos todos ao estado homogêneo de nossa existência quando o tempo findar. E até lá, que Deus nos abençoe e nos perdoe por tantas mortes, por tanto sangue derramado sem razão. Verdadeiramente sem razão! Absolutamente sem razão! Absurdamente sem razão! Que Deus tenha piedade de nós.

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